Podia ser qualquer outra empresa, mas neste caso foi a Everything Is New. Estas reações que estamos a testemunhar online, quase semanalmente, é meramente algo que já acontece do outro lado do Atlântico há anos.
Um convite a uma band, a recusa do mesmo, dado que não existe renumeração, e a reação quente e pouco pensada da produtora – a história resume-se a esta frase.
Pouco interessa neste caso os prós e contras de tocar sem pagamento – essa opção cabe a cada um pois são estes que têm que viver com as consequências das suas decisões. E nada é diferente de todas as outras industrias – oradores que aceitam trabalhar gratuitamente, outros não, estagiários que aceitam a experiência e oportunidade em troca do seu contributo sem renumeração – são opções.
O que interessa é que desta vez um dos intervenientes, decidiu publicar correspondência por email no seu mural do Facebook. A tribe da banda encarregou-se de apoia-la e iniciou assim uma partilha do sucedido bem como a inserção de comentários em posts da Everything Is New.
Esta é mais uma lição do novo mundo em que vivemos – rápido, egocêntrico, emotivo, partilhável e muitas vezes cruel. O segredo já não existe. Repito, o segredo já não existe. Comunicações que se auto protegem em rodapé estão de igual forma vulneráveis – qualquer comunicação, seja escrita ou verbal é suscetível a reprodução e pouco importa quais as implicações legais. Quando for altura de resolver judicialmente o caso, possivelmente já as consequências foram sentidas.
E o problema não é de facto a opinião na resposta da promotora mas sim o tom, desprezo e afirmações que eu sei não refletem os princípios de Álvaro Covões, responsável pela Everything Is New. Um desabafo escrito e partilhado para todos verem. Uma frase que noutras circunstâncias seria fácil de retrair. Mas não neste caso e não desta forma tão pública – única possibilidade seria de pedir desculpa, algo que sinceramente não percebo porque não foi feito.
Resposta da promotora:
“Obrigado mas dispensamos. E com essa postura nao vos adianta ter mta esperanca em algum dia tocarem num evento ou espectaculo nosso.
Eu nem sequer conheco a banda, foi 1 sugestao de 1 pessoa da minha confianca, e nao pago 300€ + tudo o resto por 1 banda que nao vai ajudar a vender bilhetes. Ainda se vendessem podiam ter os argumentos que declamam abaixo, agora nao vendem bilhetes e querem dinheiro? E por isso que as bandas nacionais nao evoluem, falta de humildade e presuncao nao levam ninguem a lado nenhum neste meio.
Boa sorte”
Mas o problema não reside nem nas características da Web nem no “desrespeito” pela confidencialidade de comunicações. O problema reside na cultura das empresas. É importante assegurar-nos que a cultura da empresa muda e só isso permitirá que se possa comunicar offline e online com segurança. A cultura tem que mudar antes de se iniciar no mundo de social media, algo que tenho vindo a defender mas reconheço ser difícil, dispendioso e demorado. Mas é a estratégia correta que irá impactar a empresa a todos os níveis, de forma positiva.
Cada vez mais a cultura interna é o pilar mais importante de qualquer empresa. Mais que market share, produtos excelentes, talento em abundância – nada disto importa se a empresa não criar a cultura certa.Todos nós nos irritamos com algo e/ou com alguém mas a diferença está na forma como lidamos com isso.
Para a Everything Is New o impacto é nulo. É uma empresa de B2B (business to business) cujos verdadeiros negócios são entre promotores e agências, e não B2C (business to consumer).
Quando o público compra bilhetes para a Britney Spears (sorry) pouco importa se é a Everything Is New, a Música no Coração, a Ritmos & Blues ou qualquer outra agência. A marca é o artista.
O que importa é uma lição para todos – já não existe o segredo. Nenhuma comunicação está livre de ser publicada, nenhuma conversa está livre de ser repetida e nenhuma ação livre de ser analisada – e tudo é partilhado à velocidade da Web.
Disclaimer: Já trabalhei com e conheço o Álvaro Covões da Everything Is New.
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