Quando é que decidimos abraçar a mediocridade? Quando é que parámos de competir, inovar e vencer? Não consigo identificar o ponto de viragem, mas o que já percebi é que a distancia entre os vencedores e o restante mercado, é cada vez maior e mais evidente.
A FNAC hoje decidiu investir na capa do jornal Público – um excelente negocio para o jornal. Mas enquanto a Apple, Google, Samsung, etc, estariam neste momento atribulados com um lançamento destes, imagino a administração da FNAC a celebrar enquanto bebem o seu café da manhã cercados por dezenas de copias do seu anuncio, ou seja, do jornal Público, que maravilha.
Um dispositivo que se posiciona para o mercado online mas cuja a publicidade está toda offline, diz muito sobre o nível de exigência que deverá hoje em dia existir na FNAC. Basta ir ao publico.pt para ver que quem negociou esta campanha, esqueceu-se que o seu produto vive do online. Baralhados? Eu estou.
Mas o que é o Kobo? Nada melhor que ir diretamente à fonte:
“Escolha do editor da Wired Magazine 2012 para o melhor eReader”. Na ausência de algo capaz de explicar o produto, nada melhor que uma “recomendação” aleatória. Não conseguiram apanhar o professor Marcelo Rebelo de Sousa, ou estaria o mesmo fora do orçamento?
Mas o que diz o site? Latim?
E as especificações técnicas do produto?
“Design contemporâneo, leve, e prático para viagens” e “navegue e compre em movimento com Wi Fi.” Compre em movimento? Para aqueles que não gostam de ler, agora a Kobo ajuda-lhe a superar essa preguiça – “Ganhe prémios só por ler”.
Mas quais as características técnicas? Começamos com “viragens de página super-rápidas” e uma “gestão de potência melhorada”. Eu sei o que esta a pensar. Revolucionário. Mas o que é uma gestão de potencia melhorada? Bateria, processador, e melhor que o quê?
Não desespere, pois estas características tornam o eReader Touch “o sonho de qualquer amante da leitura!” Os constantes pontos de exclamação ajudam a criar o mood – qual Kindle, qual Amazon.
Mas o que eu gostei mais foi do facto que “a nossa traseira acolchoada de assinatura e tamanho prático para viajar oferece o último grito numa experiência de leitura confortável”, isto porque “tirámos os botões do caminho”. Que fofo.
Hoje é dia de despedimentos. No presente clima económico, numa altura em que a tecnologia avança a uma velocidade alucinante e perante as opções que existem no mercado através de uma concorrência feroz de margens reduzidas, este nível de incompetência e indiferença não pode de forma alguma ser tolerada numa multinacional como a FNAC.
É que a FNAC existe com um modelo de negócios ultrapassado, somente usufruindo da ausência da Amazon e outros, no nosso mercado, algo que certamente vai mudar e em breve. A Amazon não é uma página de Web que vende os seus produtos online cumprindo assim com uma diretriz interna que obriga a uma presença online. É uma powerhouse de inovação que cada vez mais se aproxima da verdadeira experiência de eCommerce.
Meus senhores e senhoras que estão neste momento admirar o seu belíssimo trabalho reflectido no Jornal Público, está na altura de acordar. De bater com a mão na mesa e despedir a pessoa responsável pelo lançamento do Kobo em Portugal com a FNAC. É um insulto ao seu cliente e à profissão.
“You’re Fired”.
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