Sempre considerei que o direito ao protesto não deveria existir se o mesmo se concretizasse “à custa de terceiros”. Não obstante, constato, cada vez mais, que muitos assumem ser a sua causa mais importante do que a dos demais, neste caso, mais relevante do que a segurança de outros.
Já perdi a conta ao número de vezes que entrei num táxi em Lisboa e que, dificilmente, teria uma inspeção válida: desde os travões a chiar qual comboio desgovernado, ao estado da viatura no interior e exterior, nada seria validado. Conto, igualmente, no currículo, com uma entrada num táxi às 06:00 para ir para ao aeroporto, conduzido por um motorista que bebera, certamente, mais álcool durante o último turno que eu num mês inteiro. É ingrato assumir, porém a minha experiência com táxis é, de facto, tudo menos positiva.
Se existe algo que os taxistas deveriam ter em comum com os motoristas da Uber é o princípio que a segurança dos seus clientes é sagrada.
Em Paris, porém, este imperioso de segurança não parece ser essencial: atualmente em luta literal pelo seu futuro, pelos seus direitos, os taxistas fazem-no, em detrimento do respeito pelos direitos dos outros.
A questão ganha mais ênfase, não só porque envolveu um dos membros de júri do Lisbon BIG Apps, Renaud Visage, CTO da Eventbrite, bem como pelo facto de uma das equipas vencedoras da referida competição se preparar para enfrentar o mesmo desafio, mas desta vez com os nossos taxistas.
Perante a realidade, acredito no sucesso da Taximotions, uma das apps vencedoras do Lisbon BIG Apps, Será inevitável encontrar alguma resistência por parte dos taxistas autóctones, não porque a mereça, mas porque este segmento de negócio, como tantos outros, luta contra a mudança em vez de se adaptar às necessidades dos seus clientes.
Os taxistas, como muitos outros, estão a sofrer as ondas da recessão económica. Mas já as sofriam antes, só que agora não existe margem nenhuma para mudar: os custos são elevados, a insegurança subjacente à sua prestação de serviço parece, infelizmente, ser condição sine qua non do seu dia a dia mas, acima de tudo, o seu modelo centralizado e antiquado torna o sector num alvo demasiado fácil a abater.
Os clientes procuram um táxi: por um lado, querem apanhá-lo o mais rápido possível; por outro, exigem que, veiculo e condutor tenham o mesmo nível de exigência – quer em conhecimento e segurança, quer em higiene e profissionalismo. É que, se por um lado se torna difícil para um taxista fazer dinheiro, por outro, os valores praticados são demasiado elevados para o nosso mercado – independentemente de serem bem mais acessíveis que noutras cidades europeias.
É aqui que a Taximotions se posiciona: um serviço para taxistas cujas viaturas são novas e/ou bem estimadas e que possuem um profundo conhecimento da cidade, bem como desejo de servir o cliente da melhor forma possível. A Taximotions quer fornecer ao consumidor uma forma fácil, intuitiva, rápida e eficaz de chamar um táxi de qualidade.
Esperamos apenas que o que se está a passar em Paris não constitua uma antecipação do que para o virá a acontecer em Lisboa. Ficaremos todos a perder. É que o referido protesto aparentemente tornou-se violento quando um condutor do serviço Uber, que na altura levava o CTO da Eventbrite, Renaud Visage e a Kat Borlongan para o aeroporto de Paris, foi atacado por uma multidão que lhe estilhaçou vidros, lhe furou dois pneus e danificou a pintura da viatura com cola. Ainda forçaram a entrada no automóvel, mas o condutor da Uber conseguiu escapar à ira das massas: quem ficou a ganhar novamente foi a Uber, pelo seu profissionalismo.
Não podemos esquecer que o impacto positivo de qualquer greve ou protesto só ocorrerá quando existir, por parte do publico, empatia pela causa.
“Attacking cars blindly is not smart. It’s not a good PR move” disse Visage à CNET.
Num outro veiculo, outra passageira, Donna Constance-Moss viajava com os seus dois filhos de 1 e 13 anos, quando foi alvo de ataques prometeu:
“Will def be using pre booked taxis again just to piss them off!”
No momento em que tudo isto se resume à violência, o público posiciona-se, rapidamente, do outro lado do argumento, independentemente de o governo ceder ou não às exigências dos taxistas que se insurgem contra a Uber e outras empresas que fornecem serviços semelhantes. Foi o que sucedeu em Paris, aquando da aprovação da lei dos 15 minutos – quando se utilizam apps para chamar táxis, se os mesmos chegarem antes do tempo têm que, legalmente, esperar 15 minutos para apanhar o cliente, algo contestado pela maioria de serviços que procuram melhorar o serviço de táxis. Este tipo de legislação é muito semelhante à inútil guerra que a indústria discográfica e Hollywood iniciou contra o consumidor.
In RudeBaguette e Facebook
Imagem: 2014Paris Blog
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