A guerra para controlar a piratearia tem se vindo a intensificar, mas continuamos onde estávamos há anos atrás, sem solução e pior, sem compreender se é bom, mau ou irrelevante dado os avanços tecnológicos.
A realidade é que existe um lobby muito forte que luta pela proteção da (sua) propriedade intelectual, aqueles que suportam SOPA, PIPA, promovem a SPA e a Passmúsica.
Mas cada vez mais parece ser uma guerra de gerações entre a 3ª idade que vive revoltada com a piratearia a os mais novos que não roubam mas sim partilham. Não quero com isto passar a minha opinião pois neste caso é irrelevante, mas o que me choca mais é que, se isto é verdadeiramente um problema global, porque não estão todos representados na mesa para encontrar uma solução que se adequa ao presente século.
Os argumentos acabam por ser ridículos. Taxar aparelhos de armazenamento por gigabyte? Sério? Quem teve essa brilhante ideia? Parece-me um negocio da China dado que a capacidade de armazenamento vai crescer exponencialmente.
Se quer rir um pouco, vá ao site da Passmuisca e veja as estatísticas que aparecem do lado esquerdo:
- – 90% das pessoas recomendaria mais facilmente aos amigos e familiares uma loja que passe música
- – 84% das pessoas considera que música leva os a voltar ao mesmo bar
- – 82% das pessoas considera que a música as leva a permanecer mais tempo numa discoteca
- – 100% das pessoas que vão a uma casa de banho num restaurante e encontram papel higiénico considera mais provavel voltarem para fazer as suas necessidades (minha sugestão)
A ironia é que quando cheira a dinheiro, todos se unem para lutar contra o lado “perverso” da sociedade. Estive envolvido na industria discográfica e vi artista atrás de artista, assinarem contratos com editoras que quase sempre selavam o seu fim.
Acho curioso que ao comprar um DVD em Portugal, levo com um anuncio ridículo contra a piratearia, que compara fazer downloads ilegais com bater nas velhinhas e assaltar carros. Mas espere ai – EU COMPREI O DVD. Porque tenho que levar com este anuncio quando os que roubam (ou partilham) o mesmo DVD, que não pagaram, não o veem. Porque é que quando ia ao cinema e pagava o bilhete, ainda tinha que levar com publicidade sobre piratearia?
A luta contra a piratearia chegou a um ponto onde nada bom vai resultar. Existem demasiados interesses, basta só ver o impacto na Sony quando Anonymous, o grupo de hackers, divulgou links para poder descarregar todas as músicas e filmes do seu catalogo, de sempre. Não está certo, mas é a realidade de hoje. Respeito é algo que se adquire e não se exige.
Tudo relacionado com SOPA e PIPA está errado, deixando suficientes buracos para que possam controlar a Internet. Afinal, este foi sempre o desejo dos governos. E com uma legislação tão vaga, venha o pai natal.
Mas devemos perceber que estamos a caminhar para o sistema que todos criticam – o Great FireWall of China. Com SOPA e PIPA, ficamos com um regime de censura igual ou pior ao da China. Tudo o resto que vem por arrasto é puro oportunismo, como o caso da Lei Da Cópia Privada. Os velhos do Restelo aproveitam-se para ver se conseguem baralhar mais ainda a discussão, em torno dos novos desafios da Internet, algo que deveria ser construtivo e no mínimo ser representado por todas as gerações. Importante perceber que a geração mais nova é a mais importante pois estamos a definir o futuro, deles.
Outro grande problema está nos valores que se estima estar a perder por causa da piratearia, e aqui também as gerações não poderiam estar em lados mais opostos. Se por um lado a 3ª idade afirma que o valor perdido é de $200 a $250 biliões de USD por ano e responsável pela perda de 750,000 empregos, por outro a nova geração habituou-se à mudança continua encontrando formas de liderar com cada nova realidade que enfrenta.
Estes valores são mesmo impressionantes, da mesma forma que a SPA diz no seu documento “10 coisas que deveria saber sobre a Lei da Cópia Privada” que através de um estudo “realizado pela Intercampus” revela que a “média de gravação de músicas por mês, por individuo, é cerca de 64 músicas. Equivalentes a pouco mais de cinco álbuns completos que têm um preço de mercado aproximado de venda ao público de 75 €”. Quem escreve esta merda? Mas que raio de estudo é este? E seria pedir muito que colocassem um link para vermos como o estudo foi efectuado? Esta gente anda toda a navegar na maionese.
Por menos nos Estados Unidos já perceberam que os números que vão lançando, pouco ou nada dizem, pois a forma como os mesmos são calculados está errada. Em 2010 o Government Accountability Office declarou finalmente que os números que utilizavam para demostrar o problema da piratearia “não podiam ser fundamentados ou rastreada a fonte inicial de onde os mesmos vieram, incluindo a sua metodologia”, ou seja, os números foram inventados.
A realidade é que não sabemos qual o valor que se perde com a piratearia, quantos empregos são perdidos bem como quanto se factura com o dinheiro que se poupa na piratearia, nem os empregos que surgem com essas outras compras. E qual o valor de vendas perdidas que nunca seriam vendas? E qual o valor que depois é canalizado para outras áreas? Um músico pode não fazer tanto dinheiro na venda dos discos dado a piratearia, mas pode com uma maior audiência que nunca iria conhece-lo, aumentar a receita de bilheteira, que por acaso agora começa a ter que pagar também à sua editora já que a mesma não consegue escolher artistas em condições. E colocam-se os artistas ao lado das editoras?
Não sou contra nem a favor da piratearia. Aliás, como podem ver no Tudo Mudou, eu não vendo a “minha arte” pois aceitei o mundo digital em que vivemos hoje em dia. O que sou contra é os velhos do Restelo condenarem o futuro da nova geração simplesmente porque não os quiseram ouvir, perceber e arranjar soluções que resolvam o problema.
E é bom que se preparem para o pior, pois esta nova geração não perde tempo com palavras, documentos e declarações no telejornal. Atacam onde dói mais através da tecnologia. A Sony que o diga.
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