Esperava-se mais, muito mais, e os avisos foram poucos. O hype foi engolido e regurgitado várias vezes, produzindo uma euforia já mais vista, pouco antes de Facebook se estear na bolsa de NYC.
No ultimo momento, a ganância daqueles que deveriam ter protegido o futuro do Facebook, convenceram a quem o tinham que o fazer, a colocar o preço nos $ 38 USD, aumentando a quantidade de ações colocadas à venda.
Mas se existem algumas semelhanças com o IPO da Google em 2004, o resultado poderá bem acabar por ser diferente. Meses antes do IPO da Google, analistas avisavam do hype, até porque, semelhante ao Facebook, as receitas tinham caído e existiam algumas dúvidas sobre o modelo de negócios. Google iniciou-se na bolsa a $ 85 USD, mas ao contrario do Facebook, subiu logo $ 15 USD.
Só porque existem muitas pessoas que adoram o Facebook, e que estariam preparadas para compra ações, só isso nunca iria alterar o resultado que todos nós deveríamos ter previsto. É que enquanto Google lançou um leilão para qualquer cidadão comprar ações, Facebook distribuiu ações por algumas corretoras, aquelas que procuravam investidores de peso. Ganância total.
Enquanto Google lançou a sua tagline “Don’t be Evil” criando o lema “trust us”, Facebook avisava que o facto de estarem a ser o mais transparente possível no que concerne à privacidade dos seus utilizadores, este mesmo ato poderá bem se revelar um risco no futuro para o seu modelo de negócios.
Mas a grande diferença entre ambos é que Google opera, e sempre operou, na World Wide Web, e Facebook criou um gigante quintal, fechado e isolado, acreditando um dia passar a ser o WWW – um erro colossal.
Google conseguiu angariar $1,6 mil milhões de USD com o seu IPO – Facebook? Dez vezes mais. Mas Google continuou a crescer de forma impressionante mas Facebook, com quase mil milhões de utilizadores, está a começar a ter algumas dificuldades em crescer ao mesmo ritmo.
Para vencer, Facebook vai ter que continuar arriscar mas agora que está live na bolsa, as restrições são muitas. Não foi por acaso que nos últimos meses antes do seu IPO, Facebook adquiriu inúmeras empresas incluindo aquela que nunca poderia ter comprado após o IPO, muito menos pelo valor escandaloso de mil milhões de USD – empresa essa que nem tem um modelo de negócios nem nunca fez dinheiro.
Facebook vai ter que optimizar a experiência mobile, alterando o seu app para que consiga refletir o verdadeiro potencial do Facebook e vai ter que arranjar uma forma de integrar a publicidade, nada fácil dado o pouco espaço que deixaram para esse efeito – nenhum. O seu search, vai ter que melhorar bastante sendo que é um dos seus pontos fracos e acima de tudo vai ter que pensar se arrisca, ou não, num telemóvel seu – não esquecendo o flop que foi o seu sistema de email – alguém utiliza @facebook.com? Sendo uma empresa publica, tudo isto vai ter que ser acompanhado com um aumento substancial nas receitas, isto se não quer ser penalizado pelos mercados.
A experiência do utilizador vai, obrigatoriamente, ter menos a ver com a partilha e com a conversa, aquilo que fez Facebook o que é hoje em dia, e ser mais sobre recomendações e anúncios, algo que nenhum de nós que ser obrigado a fazer.
O dia do seu IPO vai, provavelmente, ficar marcado como o aviso do que poderá vir acontecer. As ações eram para estar disponíveis às 11:00 (ET) mas só passados 30 minutos é que Facebook se estriou e assim se viu algum movimento – um atraso na bolsa? E de repente, subiu de $38 para $ 38.02. Ouch.
Esperava-se que no mínimo, as ações subissem 10-15%, e quando chegaram a 5%, alguns respiravam a funda, mas as razões são importantes de perceber. Rapidamente nos vêm à cabeça Zynga e Groupon, que tiveram um inicio semelhante, e o resto já sabemos. Facebook abriu a $ 38 e fechou a $38,32. Só não fechou abaixo porque colocaram mecanismos para que o mesmo não acontecesse – mecanismos que não vão durar mais que uns dias.
Poderíamos até acreditar que os mercados funcionaram como deveriam. Ou seja, o preço foi colocado a $ 38 USD, e o mercado aceitou os $ 38 USD. Mas a razão que ficou pelos $ 38 USD, foi muito pelo que a JPMorgan foi forçada a fazer – comprar todas as ações que estavam a ser despejadas por outros investidores que quiseram se livrar da sua posição.
Todas as vezes que as ações chegavam a $ 38, um milagre acontecia e elas subiam novamente. Este milagre chama-se JPMorgan e não vai continuar acontecer. JPMorgan, com os outros bancos que decidiram apoiar Facebook, colocaram uma ordem de compra que atuava todas as vezes que o preço chegava aos $ 38 USD. O que nunca esperaram foi de ter que comprar tantas ações. Este não foi um dia bom para quem achou que iria fazer muito dinheiro. A luta foi intensa, comprando para evitar que descesse abaixo dos $ 38 USD. Não era de todo o que queriam – mas bem melhor que Facebook fechar abaixo do preço inicial.
Hoje, vai ser o dia que interessa. JPMorgan não vai querer ver o preço baixar muito e poderá continuar a comprar mas existem limites, especialmente para o banco que luta com uma nova crise interna – uma perda de mais de $ 3 mil milhões de USD numa única posição que contrataram e apoiaram internamente. Algo que supostamente nunca deveria acontecer depois dos escândalos de 2008-2009. Mas os bancos conseguiram demonstrar que, independentemente de terem que ser apoiados por dinheiro publico, pouco ou nada mudou.
Mais de 57% das ações que tinham sido compradas no mercado secundário, foram vendidas no primeiro dia, e isso cria uma tremenda pressão no mercado, dado que não existiu a procura que todos esperavam. Este é um dos piores sinais – porque é que esses investidores que tanto acreditam no Facebook, quiseram logo vender as suas ações? Porque não acreditam no futuro de Facebook?
Existiram outros factores preocupantes. Se por um lado os investidores normalmente colocam uma compra grande, que acaba por ser honrada em 50% dado a procura, a maioria acabou por ficar com os 100%, o dobro que alguma vez quiseram. Muito simplesmente, se quisesse $ 100 milhões de USD em ações do Facebook, colocava uma compra de $ 200 milhões, sendo que em circunstâncias normais, iria ficar com um valor perto do que queria. Neste caso, todos ficaram com o dobro do que queriam. Mais motivo para vender, e rápido.
Como um analista disse “é ótimo sermos uma exceção, mas é outra coisa acharmos ser a exceção” e claramente Facebook, com os seus novos conselheiros financeiros, erraram. Afinal, o mercado até é mais racional que imaginávamos.
Mas mais uma vez, quem falhou também, foi mesmo a imprensa, que em vez de fazer o seu trabalho de analise e critica, a maioria foi atrás dos pageviews e acabaram por propagar o hype. É uma tendência preocupante, pois a diferença que deveria existir entre bloggers e jornalistas, está rapidamente a corroer, ou seja, a qualidade de informação que recebemos já não é o que era – mais uma vitima da nova era digital.
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