Algo estranho acontece no nosso cérebro quando somos obrigados a lidar com uma realidade tão cruel. Somos capazes de mudar de canal quando vimos uma reportagem sobre as milhares de crianças que morrem por dia – é afinal a nossa forma de viver na ignorância. Mas será que a informação muda o nosso comportamento?
Para quem tem um iPhone ou iPad e já leu o livro sobre Steve Jobs, só pode ter admiração pela empresa Apple e tudo que conseguiu. Mas a que preço? E qual o impacto que esta informação tem na nossa consciência?
É triste saber que os preços praticados pela Apple com as margens que a mesma consegue, alguém teria que obrigatoriamente sofrer pelo caminho. Mas tudo isto só é possível através das ilegalidades cometidas pelas empresas que contratam menores, obrigam-nos a trabalhar 16 horas por dia e pagam menos que $250 por mês.
Existem alguns oximoros em tudo isto. Se por um lado as condições são inimagináveis, por outro são melhores que aquelas que existiam antes da Apple e outras empresas contratarem empresas como a Foxconn para fabricarem os seus produtos. Por isso, aparentemente a Apple vaio trazer algo positivo a este povo. Podemos sempre imaginar que morrer agora de fome é pior que morrer intoxicado 10 anos depois, dos químicos que utilizam no dia-a-dia.
Mas esta situação é deveras complexa para simplesmente criticar a Apple e outras empresas por o que está acontecer num país com uma cultura diferente – onde os sindicatos são proibidos e a legislação é feita à medida.
Mas da mesma forma que a Apple só sabe o que quer saber, ou interessa-lhe saber, o mesmo se pode dizer do consumidor. E agora que sabemos isto, vamos entregar o nosso iPhone? Não compramos mais produtos fabricados na China? Sinto-me envergonhado por saber que independentemente de me revoltar com estas situações, pouco ou nada irá mudar.
Mas a Apple tem alguma margem para manobra. Se imaginarmos que os iPhones e iPads fossem produzidos na Europa ou nos Estados Unidos, o custo seria mais alto e as margens da Apple mais baixas. Mas não tem a Apple suficiente margem para continuar a fazer dinheiro – mesmo que não seja tanto? Mesmo que não fosse assim uma empresa com quase $100 biliões de USD no banco?
Mas se o fizesse, o que seria dos milhares de Chineses que teriam que trabalhar ainda mais horas, em piores circunstâncias por menos dinheiro? E se dessem as mesmas condições aos Chineses, que seria dos Americanos e Europeus?
No fim, o consumidor só pode ficar tão confuso com tudo isto, que o mais fácil parece reverter à paralisia cerebral. É que são praticamente todos os produtos que por de trás têm algum condicionante.
Por um lado, e de forma altamente simplista, são os Chineses que nos permitem viver acima dos nossos meios, os governos que têm outros interesses (políticos) e a Greenpeace, que supostamente luta pela igualdade, que disponibiliza um app gratuito para o iPad (feito por menores) para podermos visionar fotografias da Amazónia.
Voltamos ao consumidor. Pobre consumidor que sozinho está inepto a lidar com todas estas variáveis. Só nos resta sentirmos envergonhados e continuarmos com a vida, como se nada fosse. Afinal, há sempre pior.
[…] e Indianos andam-nos a roubar o emprego.Estes 2% fazem com que seja impossível aumentar os miseráveis ordenados que recebem na linha de produção da Foxconn bem como insistir em melhorarem as condições – […]
[…] a Apple também acabou por levar por tabela, numa semana em que já estaria a lidar com protestos contra as condições de trabalho na China, bem como o disputo pelo nome iPad que poderá bem impactar o seu futuro na China se não tiver uma […]