A medida do mundo mudou. Conheça a nova medida standard.
Desde que o mundo passou a guiar-se por medidas standard, o A4 vertical é um tamanho conhecido pela sociedade contemporânea como um formato útil, prático e que faz sentido à escala humana e à escala das mãos.
Mas a medida do mundo mudou, e essa mudança deve-se, fundamentalmente às novas tecnologias nos últimos anos. Mas só agora essa medida começa a fazer sentido global, uma vez que saltou dos interfaces tácteis para o webdesign.
M3 é a nova medida standard, e não tem a ver com tamanhos. M3 é Mobile e Me – o utilizador está sempre em trânsito, e usufrui da informação de forma cada vez mais pessoal e permanente em qualquer lugar. A utilização de 3 tipos de aparelho distintos – laptop, tablet e smartphone – para ver os mesmos conteúdos fez com que os interfaces de webdesign se começassem a adaptar mais eficazmente aos novos gadgets.
O M3 é, fundamentalmente, uma proporção e disposição horizontal que torna o próprio gadget mais próximo do utilizador, tornando-o mais recetivo às mensagens e impelindo-o a partilhar mais. Isto porque, em termos semióticos, a perceção do formato horizontal tem uma aceitação maior pelo conforto visual e físico que confere ao ser humano, representando o espaço da vivência humana natural, da paisagem, e está relacionado com os deslocamentos, a progressão com estabilidade, e é subjacente ao próprio sentido de leitura e escrita ocidental. De uma maneira mais estrutural, relaciona-se também com a hierarquia social – preferencialmente horizontal e em diálogo – e com a propagação de informação.
Apesar de os smartphones e tablets iniciais – como os Samsung e os iPads – , terem sido orientados na lógica da leitura vertical, como a do papel, nomeadamente com a criação dos botões de hardware na parte inferior do aparelho, pode vir a ser mudado muito em breve, e os tablets da Samsung já o têm vindo a demonstrar, quando privilegiam o formato horizontal em vez do vertical.
A metáfora tem já 130 anos, quando foi patenteado o rolo fotográfico, e que permanece nas nossas mentes como o típico rolo de 35 mm, com as fotos registadas de forma horizontal no filme. A própria imagem de um negativo nos dá a ideia de “uma história a ser contada na horizontal”, assim como as câmaras fotográficas. E é dessa metáfora que bebem os mais recentes interfaces e tendências de webdesign, nomeadamente em 2013. Esta tendência começou pelas redes sociais, que deram já um grande passo em uniformizar o seu interface a esta nova medida.
Quem ditou esta tendência foi o Facebook, quando lançou as novas timelines, em Dezembro de 2011, com as imagens de capa. Horizontalizou o interface, dando mais destaque à imagem, e, juntando, num mesmo interface, o conceito de foto tipo passe e imagens landscape, parecidas às do ambiente de trabalho de um computador. Mais imagem em zonas primordiais do próprio interface. Melhorou ainda estes conceitos quando permitiu que um álbum de fotos possa ser visualizado num carrocel horizontal, sem ter que abrir o próprio álbum (nomeadamente quando acedemos ao Facebook a partir de um smartphone ou tablet).
O New Myspace fez o mesmo, ao relançar o antigo Myspace, em Setembro de 2012, com um interface completamente horizontal, o que até há uns anos faria confusão ao comum utilizador de computadores. A real vantagem deste interface é não precisarmos de customizar o rato do nosso computador para que o scroll seja horizontal, porque a rede opera tanto na vertical como na horizontal, dependendo da área com a qual estamos a interagir. Neste interface, conseguimos ter todo o tipo de conteúdos, com um forte investimento no mapeamento através da cor e uma série de aplicações numa navegação fluída. Outra nuance interessante é que o nosso menu fica na base do ecrã – qual polaroid! As fotos continuam a seguir a metáfora horizontal, no seguimento do que o Facebook já fazia.
No entanto, esta tendência tem uma influência clara do Instagram – rede social adquirida por Zuckerberg 5 meses depois de lançar a Facebook Timeline – , que mudou de interface uns meses antes do New Myspace, criando a mesma área de imagem privilegiada do Facebook. No entanto, como é uma rede baseada em imagem, ao invés do Facebook, a imagem de topo é dinâmica – e aí retoma a metáfora do álbum de fotos e o carrocel de imagens, assim como no detalhe das fotos.
Em Maio deste ano, o Flickr, relançado pela nova CEO da Yahoo, Marissa Mayer, seguiu o mesmo caminho e fez uma réplica do Instagram em termos de disposição dos conteúdos e de carrocel de imagens, assim como, esta semana, o Issuu – rede de publicação de revistas e publicações.
O Spotify seguiu, finalmente, a mesma linha- embora não seja um website, mas uma aplicação com componente social -, e começou a colocar imagens horizontais nas páginas dos artistas, nunca renunciando às formas quadradas nos seus interfaces.
A tendência será para que os próprios aparelhos – laptops, tablets e smartphones – passem a não limitar o seu hardware por uma orientação vertical e que passem a disponibilizar botões de hardware cada vez mais impercetíveis, para que as aplicações possam criar interfaces mais dinâmicos e não tão restritivos. Passaremos, então, a ter cada vez mais Natural User Interfaces, cada vez mais comuns, confortáveis e que tragam a democracia de uso para a mão do utilizador.
Imagem de destaque: José Ferreira
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