Como ex-participante deste programa do Governo do Chile, que tem dado que falar um pouco por todo o mundo, julguei importante transmitir a minha opinião sobre o programa e como as startups nacionais poderão tirar partido do mesmo.
Convém antes de mais resumir a diferença entre este programa e outros similares. Por um lado, uma aceleradora distingue-se de uma incubadora pela injecção de capital no projecto, um apoio mais focado em startups ou pessoas com projectos escaláveis (e não em pequenas empresas promissoras) e uma oferta direccionada de networking e mentoria (através de palestras ou reuniões informais com líderes e empreendedores bem sucedidos).
Contudo, o modelo de aceleração do StartUp Chile é um pouco distinto do mais comum que se pratica nos Estados Unidos (YCombinator, 500Startus, TechStars, entre muitas outros). E a principal razão advém do objectivo do programa. Uma aceleradora tradicional é normalmente liderada e gerida por empreendedores ou investidores experientes com intuito de aumentar e maximizar a sua carteira de investimentos. Daí, a sua principal preocupação é saber escolher as pessoas e os projectos que, num curto espaço de tempo, possam explodir, e ajudá-los a atingir esse objectivo.
Já o programa StartUp Chile é gerido pela agência de apoio ao empreendorismo e inovação do Governo do Chile, e tem como principal objectivo converter o Chile num polo reconhecido de empreendorismo e inovação. Em linhas gerais, a intenção do governo chileno é criar uma cultura de empreendorismo na comunidade/país e permitir aos investidores locais acederem a projectos globais. Isto, antes que o dinheiro do cobre (maior riqueza e indústria chilena) se acabe.
O que têm em comum é que ambos pretendem seleccionar aqueles que mais potencial têm de ser bem sucedidos a curto prazo, para poderem difundir e mediatizar esses casos de sucesso e assim atrair novas e mais fortes candidaturas.
Concluindo, o programa StartUp Chile é um misto, nem carne nem peixe, algo novo entre uma incubadora (utilizando capitais públicos para um bem nacional) e uma aceleradora (investindo em projectos promissores, fomentando o networking e a mentoria).
Como o objectivo do programa (fomentar o empreendorismo Chileno) não é à partida algo que seja pretendido pela startup seleccionada, existem desde o início distintos objectivos e conflitos de interesses para se gerir. Por outro lado, o investimento é elevado, não envolve participação no capital da empresa e tem uma duração mais prolongada que o normal. Nada é perfeito, há vantagens e desvantagens em qualquer programa.
Começando pelo que há de pior, de um modo geral, vai haver problemas associados à burocracia de um programa público no que diz respeito ao reembolso das despesas (a comparticipação é de 90% até a um total de $40,000 USD, mas em que nem tudo está ilegível), à distracção com o retorno do investimento à comunidade local e a uma organização que não está focada em acelerar cada um dos projectos. Também o espaço de co-working está demasiado focado na partilha de experiências entre empreendedores do que em criar condições para o desenvolvimento do seu produto/projecto/negócio. A teia empresarial chilena é antiquada e não tem também o dinamismo que se espera para se poderem encontrar sinergias e colaborações com as startups incubadas. Finalmente, os investidores locais (à imagem dos investidores portugueses) não têm uma cultura de risco elevado associado, preferindo investir em projectos sustentados com um histórico razoável e mercados conhecidos.
Pela positiva vem a possibilidade de se conhecer realidades mundiais, projectos oriundos da India, Bosnia, Argentina, Singapura ou Estados Unidos entre muitos mais. Tal como um MBA no estrangeiro, a rede de contactos é uma mais-valia extraordinária, por vezes somente perceptível a medio-prazo. A curto prazo aprendem-se métodos de trabalho, partilha de conhecimento de mercado e acesso a investidores. A mentoria é constante e cada vez mais relevante. Destaco a possibilidade de ter conhecido pessoalmente o CEO da Groupon, um fundador da Groovshark e muitos outros com quem troquei ideias sobre o meu projecto. É constante a cultura do “pitch” o que permite perceber o que nos distingue e à oferta de valor do nosso produto, assim como a melhor maneira de o comunicar. O investimento é suficiente para se contratar o desenvolvimento “core” do nosso projecto assim como sobra algum para marketing e/ou arriscar em algumas ideias mais arrojadas.
Como tirar partido dos inconvenientes do programa e tirar partido das suas mais-valias? No meu caso, a organização do primeiro Hackathon de 48 horas no Chile, permitiu retribuir todos pontos necessários obrigatórios do investimento (medido em pontos RVA pela participação em eventos), ao mesmo tempo que difundia o Loveblip e me aproximava da comunidade developer e inovadora.
Da minha experiência, embora não tenha sido o sucesso esperado também pelas demasiadas expectativas criadas, a participação foi muito benéfica e essa é a opinião generalizada dos que participaram na primeira ronda. A organização do programa aprendeu bastante com estes primeiros projectos e melhorou com isso as condições de trabalho e apoio aos empreendedores. Acredito que para estas próximas rondas, a experiência neste programa pode ser ainda mais vantajosa para quem agora se candidatar e for aceite.
Posso, pessoalmente e qualquer um interessado em participar ou mesmo seleccionado, apoiar e explicar melhor alguns pontos críticos, bastando para isso que me contactem (informação do autor segue em baixo).
Startup Chile – Novas oportunidades: Reabrem, de 19 de Março até 3 de Abril, as candidaturas ao programa de incubação/aceleração.
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