Hoje devo ter acordado com os pé de fora da cama, pois li um comentário que me obrigou a escrever este artigo. Não o queria fazer pois provavelmente foi ofender algumas pessoas. Mas eu sinto que não tenho alternativa. Estou cansado de justificar algo tão simples como a razão pelo qual eu compro produtos da Apple.
Primeiro algum contexto para perceberem a minha frustração.
Sempre fui um Windows Fan Boy ou PC Fan Boy. Comprei portáteis da Toshiba, Compaq e inúmeros outros que eram uma bela merda. Baterias que aparentemente tinham uma autonomia de 3 horas, quando na realidade permitiam-me trabalhar durante 45 minutos antes que tivesse que procurar uma tomada – e as tomadas em locais públicos eram um luxo, algo que estupidamente ainda acontece no aeroporto de Lisboa, por exemplo.
Mas quando a Sony saiu com o Vaio, apaixonei-me pelo ecrã. Era lindo, e durante 6 anos comprei o melhor Vaio, dois em dois anos – tornou-se uma necessidade pois sempre dependi do meu computador como ferramenta principal de trabalho.
Sabia que existia o Mac da Apple, mas acabei por ser mais um acreditar no mito que o Mac era para aqueles que viviam da criatividade, e eu era um mero utilizador de Office. A minha criatividade não passava de fazer um powerpoint com alguns gráficos. Foleiro para quem percebe de design, uma obra de arte para mim.
Mas apercebi-me que com tempo, tornei-me escravo de hardware que não cumpria com a sua promessa e software que me obrigava a perceber sobre como funcionam sistemas operativos.
Não queria. Fui obrigado. A melhor forma de explicar o que sentia é, imagine que compra um carro, não percebe nem quer perceber de mecânica, mas todos os dias, e com tempo a frequência aumenta, é obrigado abrir o capô e ir ao Google para colocar os erros todos que lhe aparecem para encontrar uma solução – sempre temporária. Altera a configuração do motor sem saber o que está a fazer. Umas vezes corre bem, mas na maioria das alturas, corre mal.
Aparece-lhe um blue screen e o coração quase que para. Fonix. E agora? Reinstalar. Tudo. De novo. Fonix. Fonix. Fonix.
Um belo dia, quando o meu Vaio, com a cumplicidade do seu colega, o Windows, decidiu hibernar durante uma hora, percebi que estava farto. Estava assim preparado para “arriscar” e fui à página da Apple e encontrei dois vídeos que demonstram o quão fácil é de mudar de Windows para iOS. Uma hora depois estava na Worten a comprar um MacBook Pro. Uma hora depois da compra estava a utilizar o meu computador. Nunca mais tive que abrir o capô, esperar que o meu companheiro decidisse acordar, nunca mais tive que fazer resets, formatar comutadores, lidar com mensagens que me perguntavam se queria apagar ficheiros que poderiam bem dar cabo do Universo e nunca mais tive que andar a correr à procura de uma tomada.
Tudo funciona. É simples. Podia assim trabalhar. É tão difícil compreendermos o sossego que finalmente temos em saber que quando queremos trabalhar, trabalhamos? É óbvio que conto esta história a várias pessoas. Mas estou-me nas tintas para o Steve Jobs, Tim Cook e qualquer outro(a) que trabalha ou não na Apple.
Quando comprei o iPhone foi pela mesma razão. Nokia e Motorola – gostava do design mas depois achava todo o processo de sincronização uma tarefa demasiada complexa e ineficaz. Utilizava o meu iPod para ouvir música. Tenho que explicar também porque comprei um iPod em vez de um Zune? O iPhone com iPod e fácil utilização seduziu-me logo. É que nem tinha um livro de instruções, e todos sabemos que o livro de instruções é para quando desistimos de tentar perceber como aquilo deveria funcionar.
iPad? Sim uma compra desnecessária. Um gadget? Se calhar. Mas o que me apercebi é que a utilização que pensava dar ao iPad, não dou. Mas estou a começar a utiliza-lo mais. Quando me perguntam se recomendo comprar um iPad para trabalho, ofereço sempre o MacBook Air como uma melhor alternativa. É só ver a cara de quem utiliza o MacBook Air pela primeira vez –pequeno, leve, uma autonomia de bateria que dá para esquecer o carregador em casa e acima de tudo – liga, logo. Pronto para trabalhar. Fecha a tampa, atende-se o telemóvel, abre-se a tampa – voilá – NÃO ESTÁ A HIBERNAR. Quero matar a pessoa que inventou o conceito de hibernação para o computador.
Não sou um Apple Fan Boy. A minha experiência com produtos da Apple é provavelmente igual à experiência que outros estão a ter com produtos da Samsung. Mas garanto que não é igual à experiência de quem utiliza um Playbook da RIM e inúmeros outros produtos que nunca deveriam ter saído de projeto.
Não faço parte de nenhum tribo. Apple é presentemente uma empresa que vende para as massas, já não é um nicho, mas algumas pessoas ainda acham que compramos os produtos Apple para pertencer a um tribo e para mostrar que somos melhores. Que raio de argumento é esse? Estamos assim tão deslumbrados com o marketing do marketing, com os termos inventados pelos gurus, para não perceber o que se passa?
Samsung e Apple venderam e vendem milhões e milhões de smartphones e tablets. Mas nós achamos que todas essas pessoas fazem parte de um tribo, são broncos, pois hipnotizam-se com a maior facilidade pela “magia” do marketing da Apple e ainda para mais compram algo mais caro pela sua total ignorância e desejo de se mostrarem melhores que os outros? Queremos mesmo continuar com esta linha de pensamento?
Estamos assim tão absorvidos pelo guerilla, viral, stealth marketing para não perceber que os verdadeiros vencedores são aqueles que conseguem produzir algo que responde às nossas necessidades? E só porque têm uma obsessão pelo design torna-os ineptos a construir algo digno da nossa atenção?
Disney não inventou a magia do marketing. Isso foi uma série de executivos que perceberam que conseguia fazer dinheiro a vender esse mito. Disney produziu e gere parques que utilizam a criatividade, tecnologia e serviço para nos divertir como nunca imaginamos possível. Não é a arte de marketing. É a arte de ser excelente na construção de produtos excelentes.
Steve Jobs não inventou nenhuma magia nem nenhuma arte de vender o invendável. Steve Jobs brilhou com ajuda de produtos brilhantes. E não sou eu que o digo. São as milhões de pessoas que decidiram comprar um produto Apple.
Não podemos esquecer que a Microsoft continua a dominar o segmento de sistemas operativos, a Google domina o search e a Amazon domina o eCommerce. Mas pertencemos assim à tribo da Google, da Amazon, da Microsoft, do bacalhau?
Quando pegar num iPad (3), olhe bem para o ecrã, veja a velocidade a que tudo funciona, tome nota da autonomia que o tablet tem sem ter que procurar uma tomada, veja um vídeo com uns bons auscultadores, jogue um jogo com advanced graphics, navegue na Internet, e depois diga-me que pertencemos a um tribo. iPad (3) é um upgrade à versão anterior. Estávamos mesmo à espera de ter teclados virtuais através de um lazer, ter jogadores de futebol americano a correr em cima do iPad – um holograma? Estávamos mesmo à espera que a Apple mudasse um design que funciona? Não dizemos nós – não se muda o que está bom? Fomos nós que criámos expectativas irreais, fomos nós que andámos durante meses a navegar na maionese. Foi divertido enquanto durou, mas não podemos ficar decepcionados com o iPad (3). Alías, podemos, mas não devemos.
Ao contrario do que possam pensar ao ler este artigo, não fico (muito) ofendido por me chamarem um Apple Fan Boy. Fico sim com pena que tal afirmação só pode ter um único objetivo, de acabar a conversa, e assim fico com pena, pois gosto muito de ouvir e falar – conversar.
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