Ainda estamos nas semanas das previsões e wish-lists para o ano em que recentemente entrámos e hoje – a meio do mês de Janeiro – vamos analisar as propostas pela revista Forbes:
1. O aparecimento de novos medicamentos é acompanhado por preços cada vez mais altos e em muitos casos insustentáveis para os sistema se saúde nacionais. Um exemplo são os designados “medicamentos órfãos” – produtos médicos destinados à prevenção, diagnóstico ou tratamento de doenças muito graves ou que constituem um risco para a vida e que são raras. Estes medicamentos são designados como “órfãos” porque, em condições normais de mercado, a indústria farmacêutica tem pouco interesse no desenvolvimento e comercialização de produtos dirigidos para o pequeno número de doentes afetados por doenças muito raras. Estudos estão a ser efetuados pelo Joint Economic Committee do Senado e Câmara dos Comuns nos EUA que desde 2008 está a efetuar audições e a recolher testemunhos de casos em que estas drogas estão a ser transformadas em modelos de negócios altamente rentáveis para os seus fabricantes (custos anuais de tratamento entre $100,000 e $500,000 são comuns e existem casos em que um determinado medicamento passou de $1,000 para $30,000 sem aparente explicação). Apesar de toda a controvérsia a empresa em causa, Questcor Pharmaceuticals, tornou-se um dos stocks com a melhor performance de sempre crescendo mais de 2,500% nos últimos 5 anos.
Nas Biofarmas a empresa com melhor performance recentemente é a Alexion, que fabrica o medicamento Soliris para tratamento de uma rara forma de cancro do sangue (paroxysmal nocturnal hemoglobinúria). Custa cada tratamento $500,000 por ano por paciente tornando-a no medicamento/tratamento mais dispendioso no mundo.
Esta estratégia tem os seus limites e nos tratamentos para cancro a barreira de $100,000 por paciente por ano começa a tornar-se o limite superior aceitável por governos e seguradoras.
Contudo a maioria dos medicamentos á venda atualmente são genéricos baratos por isso o mercado de volume já não funciona para as farmacêuticas como anteriormente.
Não sendo possível obter os lucros necessários para satisfazer os seus acionistas (e pagar as suas enormes infraestruturas) as empresas farmacêuticas e biofarma vão focar-se mais e mais no preço por medicamento e o valor obtido ao longo do tratamento e não mais em elevados números de vendas.
2. Na área de Health Tech vamos ver o aparecimento e evolução de novas tecnologias para análises genéticas. A sequenciação de DNA torna-se cada vez mais barata e começa a ser utilizada de uma forma cada vez mais regular nos Hospitais como um meio auxiliar de diagnóstico. Alguns pacientes de cancro famosos (Steve jobs, por exemplo) usaram testes genéticos para identificar os potenciais medicamentos existentes ou em desenvolvimento para o tipo específico de tumor que tinham. Contudo a utilização de sequenciação de DNA em pacientes não está a traduzir-se em vendas significativas para o segmento de mercado específico empresas de Life Sciences Tools – as fabricantes dos equipamentos que permitem a sequenciação e identificação/interpretação das sequências de DNA tais como o líder de mercado, a Illumina (CA). Por outro lado os recursos financeiros disponibilizados pelo NIH para esta área estão a “emagrecer” como resultado da racionalização e redução de budgets mesmo nos EUA.
Ao nível dos mercados financeiros as duas start-ups “genómicas” cotadas em bolsa – Pacific Biosciences (CA) e Complete Genomics, estão a ver o valor das suas ações a serem negociadas abaixo ou muito próximas do cash ainda disponível.
O grande potencial beneficiário tem sido a Ion Torrent, o mais recente fabricante de equipamentos para sequenciação adquirida em 2010 pelo gigante do negócio de Life Science Tools/Lab Supplies, a Life Tecnologies. Tem construído de uma forma gradual uma base de utilizadores com a sua inovadora tecnologia de sequenciação de DNA e poderá utilizar todo o arsenal disponível na Life Technologies para disferir um ataque á posição de liderança da Illumina.
A previsão é que a ciência nesta área tecnológica vai continuar a evoluir após a conclusão do primeiro esboço do genoma humana anunciada por Bill Clinton e Tony Blair em 2000 e a sua conclusão em Abril de 2003. Se os avanços serão devidos ás empresas fabricantes de equipamentos de sequenciação ou por via dos esforços de grupos privados como a Foundation Medicine – a start-up para sequenciação de cancros apoiada pela Google Ventures – é algo que ninguém ainda pode prever.
3. Os dispositivos médicos vão enfrentar um ambiente ainda mais negative. Desde empresas vocacionadas para dispositivos focados na terapia cardíaca como a Medtronic ou a Boston Scientific a empresas produtoras de rótulas artificiais como a Stryker ou a Biomet ,estes últimos anos correram terrivelmente. Não se espera nenhuma melhoria (como a nossa economia…) até a indústria de dispositivos médicos/tecnológicos como um todo enfrentarem o seu problema fundamental: demasiados dispositivos não são testados com rigor devido. O desastre que se tem desenrolado no caso dos implantes para ancas produzidos em metal-sobre-metal e que necessitam de ser substituídos muitos anos antes do previsto é só um exemplo concreto deste tipo de problemas. Para solucionar este problema as empresas de tecnologia médica vão ter de repensar como inovam, desenvolvem e testam estes produtos, principalmente em relação á sua durabilidade. Não será uma tarefa fácil tendo em vista a resposta negativa da indústria ao relatório do Institute of Medicine publicado este verão a recomendar mais ensaios clínicos de maior dimensão – indicando que como um grupo estas companhias não estão a querer enfrentar os factos.
4. As TI para Saúde vieram com muitas promessas mas vão encontrar barreiras e perder o seu “momentum”. Existe uma necessidade enorme de melhores e mias potentes sistemas computacionais para ajudar a medicina e os governos estão a puxar pelos hospitais para estes os adoptarem. Mas os analistas como o gestor de fundos de investimento, Les Funtleyder da Miller Tabak, argumentam que os hospitais vão ser demasiado lentos a adoptar novos sistemas e infraestruturas informáticas em 2012. O que é necessário é inovação por rutura, “disruptive”, ou seja um sistema informático tão elaborado que solucione muitos dos problemas em medicina. Não nos parece que estejamos lá próximos…
5. Nos EUA principalmente os grandes distribuidores de medicamentos intermediários entre a indústria e as distribuidoras para farmácia regionais vão lutar contra a sua extinção prevista para breve. Empresas como a Medco ou a Express Scripts foram criadas para auxiliar a gerir a explosão de medicamentos vocacionados para um mercado de consumo geral que eram lançadas pela Indústria Farmacêutica via Merck ou Pfizer nos anos 90. Agora estão em processo de fusão em parte porque vão ser “espremidas”. Richard Evans, da empresa de análise política Sovereign & Sector designou estas empresas PBMS (Pharmacy Benefit Managers) uma das histórias mais emotivas em Healthcare porque vão perder a capacidade de gerar lucro com os genéricos á medida que as seguradoras e governos procuram encontrar novos e melhores valores de referência para os preços de medicamentos. Assim que quase todos os medicamentos forem genéricos as empresas farmacêuticas e distribuidoras deixarão de contratar colaboradores para convencerem os consumidores ou profissionais de saúde a mudarem de marca
6. Bónus: A India eliminará a poliomielite. Num passo positivo no esforço para erradicar o vírus que paralisou Franklin Delano Roosevelt da face do planeta, vamos prever que a India vai conseguir erradicar a doença. Já passaram muitos meses desde que foi detetado algum caso nesse continente. Se continuar deste modo vai ser uma enorme vitória para o esforço suportado em parte pela Fundação Bill & Mellinda Gates, na batalha contra essa doença. Mesmo que seja verdade ainda existe um enorme trabalho a ser feito até o vírus ter sido erradicado da face do planeta.
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