Parece que hoje em dia, não se houve falar de outra coisa se não a partilha, seja ela simples como um like ou share, ou uma solução mais complexa e completa, como a de crowdfunding e crowdsourcing. Este fenómeno faz parte da maior disrupção de sempre – a economia colaborativa e/ou de partilha – sharing economy, remix culture e/ou collaborative consumption.
A maioria dos avanços têm acontecido nos Estados Unidos, mas prepare-se, pois tudo isto está prestes a chegar à sua porta. Se necessita de alojamento, porque não utilizar AirBnb, que facilita a partilha dos nossos lares com estranhos. RelayRides, ShareMyRide, getaround, Carshare, WeCar, ZipCar, mais um inúmero de outros serviços, ajudam-lhe a partilhar o seu carro ou a utilizar veículos que ficam parados 90% da sua vida útil – nunca se imaginou um produto tão caro e tão pouco utilizado.
Prosper.com e Lending Club junta pessoas que necessitam de dinheiro com aquelas decididas a emprestar com retorno. Em cada industria, mercado e segmento em que o consumidor compra um produto, estão a surgir inúmeras alternativas que lhe permitem alugar em vez de comprar. Estes sistemas são extremamente eficientes e têm tido um enorme crescimento, preocupando qualquer empresa que produz stuff.
Para todos os efeitos, este blogue faz parte da economia de partilha, disponibilizando informação de forma gratuita na expectativa de que quem lê e gosta, partilha. Este é um dos maiores desafios para a economia composta por bens comuns os existentes, e aqueles que acabam por se tornar, mais tarde ou mais cedo, parte da nossa coleção privada de stuff.
Já imaginaram o impacto que isto irá/está a ter na economia local e global, onde o passado modelo de negócios, existente na maioria das empresas presentemente, será ultrapassado por menos stuff e uma maior circulação = partilha? Esta será provavelmente a maior força de ruptura de sempre e algumas das empresas que produzem, estão atentes, repensando o seu futuro na economia de partilha. Como vão fazer dinheiro produzindo menos stuff?
Possuir itens físicos, tais como veículos, apartamentos, escritórios, equipamento, ferramentas e até brinquedos, tornou-se ineficiente, onde o ato da compra perdeu de igualmente forma o encantamento anteriormente atribuído à compra. Hoje em dia, com o fenómeno de showrooming, onde o consumidor vai a uma loja física experimentar o produto, só para depois compra-lo online, muitas vezes ainda na loja, o processo de compra perdeu o lado emocional e tornou-se numa transação: Amazon está prestes a lançar-se com força para usufruir de showrooming, para a desgraça de retalhistas como a BestBuy.
São estas mudanças, com a proliferação de mobile, que estão a contribuir para um maior interesse na partilha. Se equacionarmos o presente clima económico, bem como prospectivas futuras, muitos começam a pensar que está na altura de conseguir fazer render alguns dos assets que todos temos, em grande parte, parados.
Os principais e mais óbvios sectores, sujeitos a este tipo de ruptura, incluem partilha de veículos, locais de férias, escritórios e outros meios de transporte, revelando uma mudança de propriedade para acesso – um modelo de negócios onde o consumidor quer utilizar mas não comprar. Cada sector tem as suas próprias vantagens bem como riscos.
Caso tenha interesse neste fenómeno, recomendo a leitura de um artigo publicado pela Danielle Sacks na Fast Company, intitulado “Thanks to the social web, you can now share anything with anyone anywhere in the world. Is this the end of hyperconsumption? (Abril 2011)”. Em 2011, Sacks divulgou que mais de 3 milhões de pessoas de 235 países, já tinham “couch-surfed” e mais de 2,2 milhões de pessoas utilizavam já em Abril de 2011, a partilha de bicicletas cada mês.
Recomendo também o livro da Lisa Gansky intitulado “The Mesh: Why the Future of Business Is Sharing” (affiliate link), escrito por uma das maiores evangelistas deste novo fenómeno. Pode também encontrar um manifesto da mesma autora intitulado “Six Reasons Why the Sharing Society (aka the Mesh) Will Trump the Ownership Society” (PDF), onde se pode ler, sobre os impactos ambientais, o seguinte:
“Barring some miracle in space, there’s only one planet for us to inhabit. And by mid-century, roughly three billion more people will join us. With this math, it’s not hard to predict that businesses that figure out more efficient ways to use the earth’s resources will thrive.
Also, urban areas will inevitably become more densely populated, which really favors the sharing economy. If you’ve got more people in a neighborhood, it’s easier to increase the number of bikes, tools, local farmers markets or clothing swaps you can offer. You can also make your offers more convenient—more shared cars in the lot or on a nearby street. Density deepens community and creates demand for shared products and services.
Owning a car outright, on the other hand, becomes a bigger and bigger expense and burden to maintain and park.”
Onde verificamos o maior crescimento, e não será grande novidade para quem segue este fenómeno, é na utilização, que é maior nesta nova geração de digital natives, que não só não têm o mesmo apetite que nós para comprarem bens, como também vivem online e abraçam a tecnologia mobile como se fosse parte do seu ADN. Mas para cada sector que se muda online para o fenómeno de partilha, os riscos são diferentes e em alguns casos difíceis para o consumidor/utilizador compreender.
No caso da Airbnb, uma plataforma que permite que alugue a sua propriedade, ou a de outro, um proprietário viu a sua casa vandalizada pelos seus inquilinos temporários. Era de esperar que tal fosse um dos possíveis riscos, mas o problema foi a forma como a própria Airbnb lidou com esta crise bem como a falta de preparação para o inevitável.
Esta falta de preparação de startups é sistémica, indicativa do seu desejo de crescer e criar tração, minimizando todas as barreiras, mesmo que algumas tenham existido para proteger o consumidor.
Após este episódio, Airbnb criou uma linha de apoio 24/7 para ajudar a resolver problemas semelhantes que acabaram por manchar a sua reputação, algo crucial na economia de partilha – confiança. Mas mesmo assim, o sistema não é perfeito, pois independentemente da Airbnb ter disponibilizado uma apólice de $50,000 para cada aluguer, o mesmo não cobra responsabilidade civil/pessoal. Ou seja, caso a sua televisão caia em cima do seu inquilino, será o seu seguro a ser acionado.
Este factor lança outro desafio, pois duvido que as seguradoras estejam interessadas em continuar com a sua apólice quando souber que está a alugar a sua propriedade a desconhecidos através de um site online. Julgo que as finanças também vão querer saber mais…
Este aviso da Airbnb, que a sua apólice não substitui a do proprietário, levanta serias duvidas sobre outros sectores, especialmente a da partilha de veículos onde o risco associado a acidentes e o respectivo custo com a responsabilidade civil, pode bem vir a travar o crescimento, mais tarde ou mais cedo.
RelayRides viveu uma crise semelhante a da Airbnb, mas as consequências foram mais drásticas. Um acidente num carro alugado através da RelayRides foi envolvida num acidente que deixou o condutor sem vida e os 4 adolescentes no outro veículo, com lesões graves – tão graves que o valor de compensação pedido ($1,2 – $1,5 milhões de USD) excede o valor do seguro da RelayRides ($1 milhão de USD). O proprietário do veiculo alugado poderá bem ser responsável pelo restante valor, não coberto pelo seguro da RelayRides – mais no NYT Online.
Só em estados, ou países, em que a legislação responsabiliza a plataforma e serviço intermediário de alugueres, por todos os danos, é que se pode dizer que este tipo de serviço está imune a riscos desta natureza. Este será certamente, um dos principais riscos e barreira de entrada, para quem quer gerir este tipo de negocio globalmente.
Uma coisa é certa, as seguradoras não têm como objectivo pagarem por todos os danos sofridos pelos seus clientes, pelo contrario, especialmente quando se aperceberem deste fenómeno e da falta de controlo que vão ter quando tentam qualificar o risco de cada cliente, nomeadamente aquele que partilha o seu carro com desconhecidos.
Seja como for, e muito que mude, a economia de partilha vai acabar por conviver ao lado da economia presente, onde o consumidor não vai querer partilhar o seu lar ou seu veiculo. Da mesma forma que social media não veio substituir media tradicional, a partilha será mais uma opção para o consumidor. Mais más noticias para as empresas que acham que estamos na era do Facebook. Não estamos. Como também não estamos na era de social media.
Social media já não existe. Toda a media é social. Tudo está a tornar-se social, menos para a maioria das empresas cuja estratégia digital é ter uma página no Facebook. Pelo menos o Timline vai ajudar, pois caso não se atualizem rapidamente, os consumidores vão puder rever o passado na sua página corporativa online (no Facebook) e recordar os bons velhos tempos.
Leave a Reply