Já foi dito e repetido até ao limite: Steve Jobs teve uma influência indiscutível na indústria de electrónica pessoal.
Contudo o impacto do seu espírito inovador teve um alcance maior do que colocar no mercado da electrónica de consumo simples gadgets para escutar música ou ecrãs portáteis para navegar a net.
Estas inovações transformaram o modo como nós, em sociedade, comunicamos, ou a maneira como obtemos a mais diversa informação e a partilhamos assim como a percepção de como os produtos devem parecer, sentir-se (feel) e funcionar (perform).
Sob a influência de Jobs, a Apple mesmo não querendo influenciar, deixou um impacto permanente na indústria da Tecnologia Médica – a sua influência mais óbvia é a adopção e utilização crescente de iPads e outros tablets em ambiente clínico.
Mais ainda, produtos como o iPhone têm sido instrumentais em fomentar o crescimento de um mercado que não existia como tal mas actualmente é dos mais entusiasmantes como Mobile Health e/ou Telehealth (em Portugal são áreas de crescimento e inovação permanente, ultrapassando as Biotecnologias, por exemplo).
E por fim o reinado de Jobs na Apple teve um impacto inesquecível no design de produtos para múltiplos segmentos – e que levaram pacientes e profissionais de saúde em todo o mundo a apontar aos seus fornecedores de equipamento médico como exemplo a seguir cada gadget lançado pela Apple obedecendo ao paradigma de user-friendly/sleek design.
Enquanto meio mundo reflecte no real impacto que a carreira profissional de um homem tem na sociedade como um todo, aqui iremos revisitar a história recente de tecnologias criadas pela Apple com utilizações inovadoras na área da Tecnologia Médica e o seu impacto no mercado.
Um iPhone que se transforma num Microscópio e outras aplicações científicas
Ainda antes do desaparecimento de Jobs já tínhamos começado a referir como os iPhones podem ser usados para imagem médica e transformados em microscópios portáteis adicionando algum hardware complementar.
Qual a tecnologia que inspirou estes desenvolvimentos na área da saúde profissional? Uma App tecnológica para o iPhone denominada iStethoscope criada por um cientista da UCL – Londres, Peter Bentley em 2008.
Este tipo de complementos a um preço acessível disponibilizados para o iPhone tal como para outros SmartPhones que entretanto foram sendo lançados no mercado, tiveram um impacto significativo em locais remotos onde o acesso a equipamentos médicos tradicionais é muito limitado.
Investigadores da Universidade da Califórnia alteraram iPhones de modo a que podem ser utilizados como modelos de imagiologia média de alta qualidade assim como detectores rápidos de produtos químicos. Apenas adicionando algum hardware e maximizando as capacidades existentes num um iPhone estes investigadores conseguiram transforma-lo num microscópio e um equipamento portátil de espectrofotometria. Estas funcionalidades foram apresentadas esta semana na Optical Society’s Annual Meeting em San José, Califórnia.
O objectivo dos investigadores era simples: como potenciar um iPhone com um budget muito restrito de modo a poder oferecer capacidades de um pequeno laboratório em áreas onde estes não existem, combinado com capacidades de transferência imediata de dados e partilha de imagens com colegas em todo o mundo.
Usando lentes de amplificação esféricas de 5x com 1mm de diâmetro e a alta resolução do sensor semicondutor da câmara, o iPhone-microscópio ajuda a distinguir alterações em objectos tão pequenos como na ordem dos 1.5 microns. Parece pouco? É o suficiente para, por ex, diferenciar os vários tipos de células sanguíneas num paciente.
Como conseguiram obter tal imagem e resolução? Os investigadores utilizaram software de processamento de imagem digital que corrigem a distorção causada pelas lentes esféricas. A imagem não é tão nítida quanto a obtida com um microscópio laboratorial comercial… mas podem ser utilizadas imediatamente em locais onde estes não estão disponíveis!
Para montar um espectofotómetro a partir do iPhone a ideia será usar tubos de plástico opacos – ou tapados com fita preta – nos quais é feita uma pequena ranhura para capturar somente feixes de luz paralelos. Analisando os padrões de difracção por software específico será possível efectuar medições de compostos químicos como oxigénio no sangue e auxiliar na pré-detecção de marcadores químicos para doenças.
Tudo isto são apenas exemplos muito recentes das portas abertas em institutos de investigação pela criatividade da Apple e em áreas tão importantes como a da Saúde – para além do facto de terem sido as Universidades e os seus membros o primeiro grande grupo de suporte da Apple no final dos anos 80 e início dos anos 90 (ainda se lembram da sempre invejada lista de preços Educational?)
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