Existe alguma diferença entre o que os analistas acreditam ser o futuro, as tendências, e depois na realidade, ou seja o que o consumidor verdadeiramente quer.
Quando fui contactado em Agosto de 2012 para escrever sobre o novo serviço da ZON, RestartTV e Timewarp, aceitei, porque achei interessante a ZON estar a desenvolver serviços passiveis a disruptar o seu modelo de negócios – inconsciência ou uma estratégia ousada?
Voltando aos analistas, e conforme os mesmos, já devíamos estar a caminhar para um consumo de media on demand, onde o consumidor escolhe o que quer ver, quando e em que formato – tablet, smartphone, laptop e estranho que pareça, televisão.
Neste caso, eu, como utilizador, já utilizava o RestartTV, uma forma de conseguir iniciar o programa quando o apanhamos a meio ou até perto do fim. Também tinha a possibilidade de ver o programa que tinha passado antes daquele que apanhava na altura de me ligar ao canal.
Curioso é que quando verifiquei que tinha a hipótese agora de procurar e ver programas que tinham passado nos últimos 7 dias, dei por mim a testar mas depois nunca mais utilizar. Com o elevado conteúdo que aparece nos à frente num único momento e a falta de tempo, nunca senti a necessidade de utilizar o Timewarp. O que levanta uma questão pertinente – sou só eu ou isto reflete um comportamento normal do consumidor? Analisando o meu comportamento, verifico que a tendência on demand pode estar ainda muito longe e até nem ser algo que venha a procurar de futuro.
On demand tem benefícios mas também tem um lado negativo – não só somos extremamente irracionais como humanos, odiando ter que escolher, como também corremos o risco de nos limitarmos ao que achamos ser benéfico perdendo assim a magia da descoberta, conhecido por serendipity – “ a “happy accident” or “pleasant surprise”; specifically, the accident of finding something good or useful while not specifically searching for it.”
Para reforçar este sentimento, de não estarmos propriamente a caminhar para on demand, pelo menos não nos timings previstos pelos analistas, a Nielsen revelou através do seu relatório Cross-Platform Report, que 5% do visionamento ocorre a mais de 7 dias da sua transmissão, a maioria com específicos tipos de programação (nicho) tal como a ficção científica.
Mas ao analisar os resultados do estudo nos Estados Unidos, o visionamento após 7 dias é irrisório – para televisão é 1.1% e para cabo 0.6%. Eventos transmitidos ao vivo (em direto) continuam a dominar com 87.2% para televisão e 93.3% para cabo.
Programas visionados no próprio dia de transmissão mas a uma hora diferente descem para 5.5% para televisão e 3.4% para cabo com o visionamento de programas até 7 dias depois da sua transmissão, revela pouca diferença – 6.1% televisão e um pequeno decréscimo em cabo para 2.8%.
A piorar o cenário de previsões de uma tendência de mudança para on demand, Nielsen verificou que o visionamento de televisão cresceu 80% durante o quarto trimestre, comparado com o mesmo período do ano anterior. Este aumento inclui o visionamento de programas em direto, gravados, visionados através de sistemas como o RestartTV e Timewarp, DVDs e jogos através de consolas.
Para quem está minimamente atente, nada disto é novo até pela ausência de televisões 3D no CES depois dos analistas terem previsto que o 3D e HD seriam o futuro (2011 e 2012). O que está a mudar, e o consumidor agradece, é a qualidade de imagem sendo que no CES de 2013, as marcas começaram apostar no UltraHD, ou 4k e 8k, imagens tão claras e vivas que bem poderiam vir a substituir as nossas janelas – está a chover? No problema – vai ai a imagem de uma praia.
A velocidade da mudança parece sempre ser alucinante, e em alguns casos até é, mas a televisão tem sofrido iterações, mudando a qualidade de imagem e som mas nem o boom de mobile vai alterar o rumo dramaticamente. O desafio é demasiado grande. HD, para não falar em 4k e 8k, requer maior banda larga e as empresas que controlam a mangueira de dados estão a investir a uma velocidade deveras lenta para conseguir dar lugar ao verdadeiro on demand. Ainda bem, pois parece que o consumidor quer tanto 3D e on demand como um murro no estômago.
MEO introduziu o mesmo serviço e neste momento ambas as empresas, MEO e ZON, têm estes serviços, todavia com nomes diferentes.
[alert style=”grey”]Fica aqui um disclaimer importante: foi me oferecido 3 meses do serviço. Importante pois já era cliente ZON – para todos os efeitos pagaram me 3 meses de um serviço que já tinha. Algo diferente de me colocarem o serviço durante 3 meses para testar.
Todavia, nestes casos, nunca garanto os timings para a publicação de um artigo e muito menos promovo marcas aqui. Como já repararam, TudoMudou deverá ser o único blogue isento de publicidade desde que começou há quase 2 anos.[/alert]
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